
Foto: Mila Petrillo

Foto: Sátiro Valença

Foto: Sátiro Valença

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Memórias, ações artísticas e pedagógicas
A grande revolução
1964, ano de revolução no Brasil. Aos dezenove dias de novembro deste mesmo ano, eu nascia em São Luís, no Maranhão, na “Ilha encantada”. Terra dos batuques, do bumba meu boi, dos Tambores de Crioula, da dança do Cacuriá, do ritmo dos Caboclinhos, dos blocos tradicionais de carnaval. Terra das palmeiras onde canta o sabiá. E de todos os ritmos deixados por índios, negros, franceses e portugueses que lá viveram e construíram as riquezas dessas culturas populares que muito influenciaram e marcaram em minha memória as primeiras impressões da música, do canto e da dança.
Tudo indica que nove meses antes de eu nascer, era época de carnaval. Teriam sido ali meus primeiros movimentos?
Aos três anos de idade, fui com a minha família para Manaus (AM). Um lugar cheio de lendas e estórias que despertaram em mim o desenvolvimento de muita imaginação e de ideias surgidas no decorrer da minha infância. E aos seis anos de muita versatilidade e inquietude, fui escolhido para ser o orador da turma na minha formatura do jardim de infância. A primeira vez que tive contato com o palco e com o público.
Estudei por muito tempo no Instituto Educacional Benjamim Constant. Colégio da Congregação das Filhas de Sant’ana, onde minha tia, a Irmã Bernadette, era a diretora e uma pessoa muito importante na minha formação cultural e por que não dizer, artística. Sempre incentivado por ela e por minha mãe, Ivete de Luna, comecei a participar de concursos de fantasias de carnaval na emissora de TV local e nos bailes infantis dos clubes da cidade.
Sempre dancei nas festas juninas do colégio. Na maioria das vezes, as danças folclóricas da região Norte. As quadrilhas, a dança da Caninha Verde, as danças portuguesas e a Dança das Amazonas, a única que da qual não participei e que foi a mais impressionante para mim.
Ela tratava da lenda das índias guerreiras que habitaram aquela região. Foi um encantamento sem explicação. Um despertar de ritmos, sons, movimentos e um belíssimo visual. Só as mulheres dançavam e foi paixão à primeira vista. Era lindo vê-las dançando. Paixão de vez pela dança.
Participei do coral de meninos do Benjamim Constant e, nessa mesma época, marchava à frente dos pelotões e da banda marcial do colégio nos desfiles de 7 de setembro, além de frequentar as aulas de piano e acompanhar minha mãe nos ensaios e apresentações do Coral Universitário do Amazonas. Fiz um elo com a música.
Fascinado pelo movimento da Jovem Guarda, os Jackson’s Five e os Secos e Molhados, iniciava a fase da imitação, da criação de pequenos shows, que mais tarde, bem mais tarde, eu identificaria como performances. Apesar de tímido, me tornei a atração nos encontros de domingos no sítio das “tias freiras”, nos aniversários de família e nas festas do Clube das Mães, onde minha mãe, querida inspiração, fazia aulas de pintura e artesanato todos os sábados.
Percebendo a arte em minhas veias, o meu pai, Demerval Reis, um rígido e metódico militar do exército, prontamente me fez ingressar na arte marcial do judô, enquanto minha irmã frequentaria as aulas de balé clássico.
Após o término dos meus treinos, a esperávamos encerrar as suas aulas, até que um dia o seu professor consultou minha mãe se eu poderia fazer uma participação especial na apresentação final do espetáculo de sua escola, onde eu seria um escravo que se apaixonaria pela princesa e por fim dançaria com ela.
Minha mãe me perguntou sobre o ‘revolucionário’ convite e, mais que rapidamente, aceitei. Era a grande chance de estrear no grandioso e estonteante Teatro Amazonas. Dancei, ainda, duas coreografias a mais. Fui par na Dança Espanhola e um dos faunos em Sonhos de Uma Noite de Verão. Passei também a frequentar as aulas de balé clássico.
Claro que não tive uma boa recepção por parte dos meus professores de judô e nem o apoio imediato do meu pai. E para evitar pequenos constrangimentos resolvi parar de dançar balé. Mais tarde, já adulto, ele não só me apoiou como também me apresentava, aos seus amigos, como artista dançarino.
Ainda em Manaus, explodiam os concursos de dança em todos os cantos da cidade. Era a época das discotecas. Nunca tive audácia e coragem suficientes de concorrer, mas, adorava assistir. Dançava e treinava em casa para o próximo imperdível final de semana, ficando apenas na vontade. Era quase um vício.
Em 1982, vim para Brasília juntamente com a minha família. Foi o começo de uma nova vida. Uma nova revolução. Tudo era muito diferente. O clima era mais frio, as pessoas diferentes e frias. Fui morar no sexto andar do bloco F da Super Quadra Sul 212, um endereço muito diferente. Sempre morei em casas de vilas militares e, apesar da quadra ser de militares, eu, um caboclo do Norte-Nordeste, assustado com tudo, demorei quase um ano para sair de casa e fazer amigos.
Certo dia li em um anúncio de jornal que estavam oferecendo bolsas de estudo de dança para rapazes em uma academia no Lago Sul. Não pensei duas vezes e me lancei no jazz dance com Elvira Barney. Estava de volta aos meus estudos de dança e dessa vez não mais desistiria. Um ano depois alcancei a turma avançada e logo fui contratado como professor de dança para crianças e adultos iniciantes. Meu primeiro emprego, ganhando dinheiro com a dança.
Durante esse período, concluí a Licenciatura Plena de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio em Educação Física. E ainda nesse período comecei minha carreira como bailarino e coreógrafo.
Conheci outras técnicas de danças, o afro-jazz, o jazz moderno, a dança moderna e contemporânea, além de dança teatro, relaxamento, alongamento e flexibilidade, ginástica estética, aeróbica e expressiva. Atuando em diversos musicais e espetáculos de dança premiados em Brasília e em outras cidades.
Queria respirar outros ares e fui morar por dois anos no interior do ceará, em Milagres, onde trabalhei como professor de dança e coreografando em eventos artísticos do colégio onde minha querida tia também esteve como diretora. Observei Brasília por outro ângulo e percebi que já estava enraizado nela.
De volta, decidi, também, fazer teatro, atuando em algumas montagens amadoras com Humberto Pedrancini, José Regino, Ed Anderson e Plínio Mósca. Um sonho antigo de criança.
Trabalhei como bailarino convidado nas mais renomadas companhias de dança da cidade; Grupo Stillo, de Rosa Coimbra; Grupo Previsão do Tempo, de Maura Baiocchi e Eliana Carneiro; Cia de Dança Regina Maura, de Regina Maura; Anti Status Quo, de Luciana Lara; Grupo de Ballet Regina Corvello, de Regina Corvello; Grupo Advanced, de Glória Cruz e com Mironilce Regino.
Em 2000, fui convidado por Lenora Lobo para participar da Mostra de Intérpretes Criadores da Cia. Alaya Dança na coreografia Ao homen que amava feira, festa, farinha e forró. E seguindo com Lenora Lobo revolucionei mais uma vez a minha história de vida, o meu ego e o meu modo de ver e pensar arte.
O meu encontro com o método TEATRO DO MOVIMENTO se dá a partir do espetáculo Máscaras, em 2001. Começa uma conexão direta com companhia Alaya Dança, com Lenora Lobo e com o método. Assim como Lenora, sou também nordestino e seu trabalho me trouxe de volta às minhas origens.
Uma renovação de pensamentos, um mundo novo se abrindo para mim, uma nova dança, com um novo jeito de fazer minha própria movimentação. Mais uma vez a revolução na minha vida. Tudo se transforma.
Sinto-me como uma criança que se põe de pé e começa os seus primeiros passos. Mais inteiro, muito mais observador, consciente e autêntico em minhas ações, em meus passos, com mais segurança de me tornar um profissional da dança, sem, porém, desprezar tudo o que já havia vivenciado com relação às outras técnicas e o que já experimentara antes em outras companhias.
É como se fosse lapidado aos poucos. Uma pedra bruta tomando forma e valor. Um conhecimento dos ossos, das articulações, dos músculos, como tudo funciona, como tudo se movimenta, enfim, como o corpo dança.
Nada fácil, pois a dança moderna que conhecia já vinha pré-estabelecida. Até então, sentia-me como um aventureiro sem destino sendo levado por ondas e intempéries do imenso mar, sem aportar em lugar algum. Fazendo dança sem um conhecimento e estudos mais aprofundados.
Torno-me um dançarino criador, com o método, começo a experimentar novas descobertas, outras sensações e emoções que me suprem de informações e estruturas. Tenho uma nova visão como artista da dança contemporânea. Um artista do movimento.
Em MÁSCARAS, há um texto de Menotti Del Picchia em que a trama se desenvolve entre três personagens dos antigos carnavais: Pierrô, Colombina e Arlequim.
Nos primeiros laboratórios eu sempre me sentia como o Pierrô e me identificava muito com suas ações e emoções. Foi quando resolvi buscar a figura do Arlequim que já pulsava forte dentro de mim.
Trabalhando com o imaginário criativo começo minha sensibilização percebendo a dificuldade que tenho de me “esvaziar” de mim mesmo para entrar em contato com proposta do trabalho. E é através dos estímulos criativos lançados pelos orientadores Marcelo Evelyn, Rosa Coimbra e por Lenora que vou me descascando das couraças que ainda me revestem, causando-me dúvidas e medos de arriscar e lançar-me no processo de criação.
Prosseguindo com os estímulos, leio e releio o texto de várias formas: em voz alta, em silêncio, estático e com movimentos. Observo fantasias e personagens do carnaval que aos poucos vão me ajudando a investigar e encontrar soluções para dar o passo inicial.
No espaço, começo improvisando movimentos lentos no nível alto, bem lá dos sonhos, da imaginação. Continuo com pequenos e imperceptíveis giros dando expressão ao Pierrô. Aparece o meu Arlequim quando me lanço no plano baixo e, com o tronco colado ao chão, uso torções e contrações pélvicas num ritmo frenético, movimentando pés e pernas em rápidos passos girando em torno de meu eixo.
A minha emoção se transforma em fúria junto com a impossibilidade de me desprender da força gravitacional que nesse momento me toma por inteiro. Até que, com um impulso reativo, executo um rolamento acrobático para trás e me ponho de pé com expressão de força, poder e sarcasmo.
Utilizo movimentos isolados assimétricos e espaciais sem direções definidas, com os braços, mãos e suas respectivas articulações. Dentro da dinâmica, procuro combinar os fatores Força-Fluência que resultam em movimentos inconscientes, ligando força vital e sentimentos, o sonhador Pierrô, posteriormente dando lugar aos fatores Força-Tempo, numa atitude interna rítmica com minhas sensações físicas e intuição ligadas à Terra, com a energia visceral de um Arlequim.
As pernas, estáticas, realizam alguns saltos e elevações alternadas, gerando momentos em desequilíbrio que desencadeiam fotografias através de giros e pausas.
Torções, contrações e expansões também são utilizadas seguindo as unidades de ações que acrescento em minha pesquisa dentro do Triângulo da Composição. Acabo de compor uma cena. Despindo-me literalmente, de um apático Pierrô e tornando-me um irrequieto Arlequim.
Já estão registradas em minha memória afetiva as ações, gestos músicas, danças, experiências, pessoas e cenas que presenciei ao longo da minha vida, reavivando a grande paixão que tenho pelo carnaval.
Após várias repetições de frases de movimentos, defino e organizo, com melhor qualidade, a conclusão da minha composição. As sequências são amadurecidas e se consolidam durante os ensaios.
A cada ensaio, mais descobertas e registros são revelados e guardados em minha memória corporal. A imaginação se expande na verdadeira intenção de expressar todas as características encontradas em cada personagem.
Nesse momento, eu sou a materialização desse poema, desse imaginário popular. O texto já é de minha propriedade, está em mim, nos meus movimentos, nas minhas máscaras. Filtro todas as informações que vão surgindo a cada momento, a cada apresentação e com o vértice do Imaginário Criativo, vou construindo minha própria dramaturgia.
Eu faço parte da obra, eu sou a obra. O Beijo do Arlequim. Metáfora do Corpo em Movimento. Com o método do Teatro do Movimento, percebo como tudo se torna mais simples, quando possuo subsídios e fundamentos para realizar qualquer trabalho voltado para a cena, teatro ou dança.
O criativo pedagógico
Encantado com a arte do teatro desde pequeno, sempre brincava com amigos na escola e com vizinhos sem perceber que esse ato de representar já me levava para uma outra forma de expressão, a dança. Demorou um pouco para que essas duas artes se tornassem verdadeiras e de forma mais séria na minha vida. Tudo não passava de pura brincadeira.
Experimentei no decorrer desse tempo a arte marcial do judô e ainda pratiquei natação apenas como parte do desenvolvimento corporal e mental que todo jovem deve ter. Ficaram em mim registradas certas posturas, movimentos específicos, algumas sensações físicas e psíquicas que fizeram parte de alguma forma da construção do corpo que seria posteriormente um corpo dançante, atuante nas muitas manifestações artísticas que vivi.
Deixei passar o teatro sem nunca me afastar totalmente dele. Enveredei-me pelos caminhos da dança, o que já era muito previsível, pois sentia um enorme desejo de movimento.
O meu conhecimento sobre dança traduzia-se apenas em copiar, imitar e repetir os passos que eram mostrados e que seriam de mais fácil execução. Ainda leigo, já observava e, mais ou menos, organizava algumas sequências coreográficas.
Conheci algumas técnicas de danças como o balé clássico, o jazz, o afro-jazz, a dança expressiva e a dança moderna, onde realmente me profissionalizei. Cada vez mais curioso e inquieto, buscava sempre a minha dança pessoal, porém, sempre muito prático e sem muitos embasamentos teóricos.
Ao conhecer o método, agora bem mais maduro em relação à dança que estava desenvolvendo, pude perceber certas dúvidas sobre o meu desempenho. Um questionamento sobre as técnicas que já estavam em mim. Começaram as indagações de como seria essa dança? O que realmente eu queria dizer com ela e como eu me mostrava para o mundo?
As pesquisas sempre começam pelas memórias e emoções. São as imagens internas, interagindo com o meio exterior dentro da realidade vivenciada. São as origens, a nossa cultura popular e a minha relação com o mundo, gerando uma reinvenção e uma reinterpretação dos meus gestos autênticos.
Penso corpo, espaço e tempo. Tomo ciência dos mecanismos do corpo em movimento. Conheço com mais clareza toda a movimentação da minha estrutura física, dos meus ossos, minhas articulações e de toda a minha musculatura. Os desenhos e marcações de um novo espaço. O tempo é considerado em velocidade e duração. O meu desempenho é acrescido por pontuações, impulsos e pela fluência reconhecida em meus movimentos.
Redescubro a dança através desses conteúdos que o método oferece e percebo erros de postura, deficiências e limitações de execução na minha própria movimentação. Passo a investigar, através de improvisações, outras formas de movimento. Posso observar como o meu caminhar muda no dia-a-dia. O alinhamento da minha caixa torácica, a bacia e toda a relação com o abdômen e com a coluna.
Ciente da proposta do Teatro do Movimento, tento observar a movimentação natural de outros corpos, de outros intérpretes, suas posturas, suas limitações, diferentes expressões e sensações. A troca de experiências, de pensamentos, outras técnicas. Acrescentando novas descobertas que me ajudam a construir esse novo corpo e suas estruturas para cada realização.
Meus movimentos, antes isolados em pequenas partes e às vezes mais difíceis de realizar, tornaram-se mais congruentes, mais espontâneos, desenvolvendo simetrias e assimetrias com mais relações de equilíbrio, habilidade nas locomoções e um maior potencial expressivo, saindo da fisicalidade e timidez para desenhos corporais no espaço externo. Esse espaço que era muito pessoal, pequeno e que pela vivência com outros bailarinos e elementos cênicos tornou-se consciente e bem distribuído.
Libertando-me das armaduras, bloqueios e travas que estavam impregnadas durante anos de prática e muitas repetições da dança moderna.
Consciente, respeitando os espaços internos entre as minhas articulações, entre as vértebras e a coluna, transformando a minha anatomia e todo o meu sistema neuromuscular, respondo com mais atenção e melhor percepção aos sentidos, às emoções e ao novo mundo que se abria, conhecia a dança contemporânea.
Na formação e na criação, compreendo que o método me possibilitou uma melhoria em tônus muscular, liberando toda a musculatura presa a medos e limites que ainda possuía em relação a certos padrões, movimentos e sensações interiores e exteriores que já não eram tão importantes naquele momento.
Cada vez mais adquirindo um conhecimento de minhas possibilidades. Percebi os pontos de apoio, os meus pés enraizados no chão como garras. Equilíbrio e segurança em minha base.
Membros superiores e inferiores devidamente alongados, flexibilizados e melhor trabalhados para a execução dos movimentos. Melhorando também minha expressão corporal total dando-me mais clareza e precisão para trabalhar minhas máscaras faciais, obtendo melhores talentos com o objetivo de qualidade, e desenvolvimento de potencialidades e individualidades com muita versatilidade em relação à vida que me cerca.
Experimento não pensar e nem racionalizar o que vem com os estímulos, seja a música, um som ou ainda o próprio silêncio, atento a todas as reações. Sempre pronto para receber as informações que vem com os improvisos nos laboratórios, visando à realização da criação.
Um salto, um giro, uma queda. O sentar, o agachar e o levantar, experimentando as diversas ações, as transferências de apoio. Tudo com escutas e respostas para o enriquecimento do meu vocabulário corporal e a minha criatividade, conduzindo ao resultado do que pode ser expresso no exato momento.
Com o desdobramento do método Teatro do Movimento em minha vida, torno-me um corpo expressivo criativo, com atitude interior no meu jeito de ser e de atuar. Executando repetições, deixo fluir a dinâmica, elaboro e sintetizo as novas descobertas em busca de mais plasticidade para o corpo. Projeto-me no espaço e minhas emoções são buriladas de forma consciente sem forçar o que não seja verdadeiro e que não comprometa a qualidade do movimento e ou personagem.
Passos firmes e um olhar que agora vislumbra um mundo diferente, direcionam a uma nova identidade artística. Um caminhar, um novo modo de dançar. Cuidadoso, com respeito e consciência, aproveito minhas habilidades naturais e fortaleço a minha personalidade.
Esse aperfeiçoamento me leva também a desenvolver minha técnica vocal e minha interpretação nas cenas. Estou junto ao teatro novamente. Ampliando meus recursos para uma linguagem pessoal como intérprete dançarino criador com mais fluência e liberdade, ganhando movimentos que muitas vezes partiam da periferia para o centro, com os meus braços, os quais sempre me deram um grande vocabulário gestual, sendo agora um movimento do centro para a periferia, dando-me maior vitalidade e dramaticidade.
Com mais projeção, me aproprio da interpretação. Minhas intenções, máscaras e personagens têm mais veracidade nas cenas. Estou presente despido de limitações e preconceitos com qualquer tipo de movimento. Movimento que toma forma. Vira frase. Dança.
A proposta do Teatro do Movimento está inserida de forma complementar em todo o meu trabalho artístico e pedagógico, como ser humano, dançarino e professor. Através do Triângulo da Composição, estou embasado em todas as experiências corporais que envolvem o movimento em cena e na área da educação. As pesquisas, os estudos, investigações me levam ao alcance dos objetivos, de um melhor desempenho como dançarino, às composições coreográficas e à formação dos alunos nas várias instituições de ensino em que tenho atuado.
Tendo vivenciado esse método como dançarino do Alaya por mais de uma década. Paralelamente já o aplicava adaptado a algumas técnicas que também achava necessário manter, dando o meu toque pessoal para que esse desdobramento obtivesse resultados satisfatórios a cada situação apresentada. E assim vem sendo até hoje.
Aprimorando os conteúdos, ampliando os meus conhecimentos, utilizo minuciosas estratégias com mais clareza e seleciono os movimentos com mais qualidade para chegar ao momento da criação.
Processo de criação com mais organização, maturidade e segurança na composição. Uma movimentação com características próprias, me apropriando do método. Grandes passos foram dados e ainda serão a partir desse desdobramento. Ainda há caminhos a percorrer e sempre muito que se aprender e fazer, pois o mundo vive em constante mudança.
Minhas técnicas de expressão e minha interpretação são aperfeiçoadas a cada dia, a cada cena, em cada repetição que executo. Sinto a necessidade do movimento com a interpretação, vejo as duas vertentes, teatro e dança caminhando juntas.
Minhas performances se concretizam através de pequenos textos internos que utilizo para a minha criação, seja ela dançando ou coreografando. Textos e movimentos dão sentido à minha proposta de Teatro do Movimento.
Tenho insights vindos de estímulos diversos e de tudo ao meu redor. São os subsídios para que a criação aconteça.
Continuo sonhando, devaneando e imaginando quando aplico a proposta do método na minha pedagogia. Desperto minha criatividade através de brincadeiras que adapto aos conteúdos a serem realizados. Coloco-me mais exposto e perceptivo às informações que cada turma me oferece, podendo assim, analisar e avaliar cada resultado obtido. Com o lúdico, consigo chegar ao bem comum.
Sempre estarei focado na criatividade com muita concentração no que sinto para poder expressar tudo o que pode ser mais bem absorvido pelos alunos e pelo público.
Costumo focar com mais ênfase no Imaginário Criativo, onde vou resgatar as memórias, sensações e percepções de cada aluno, pois sinto que as ideias serão mais verdadeiras se partirem dos próprios integrantes daquele núcleo onde acontece esse desdobramento para, juntos, compormos uma coreografia, um trabalho original.
Seleciono os estímulos de acordo com a necessidade observada para, a partir daí, desenvolver o trabalho sempre de forma prazerosa, pois na maioria das vezes estou com crianças e adolescentes.
Antes de tudo, já terei passado pelo vértice do Corpo Cênico com o trabalho de sensibilização, proporcionando um conhecimento de seus potenciais, suas estruturas, vivenciando seus sentidos e corporificando suas emoções dentro de um conhecimento expressivo.
Aproprio-me dessa proposta muito mais para despertar o ser criativo de cada um, tentando não impor minhas ideias e, assim, pesquisar soluções e obter resultados junto com eles, registrando em seus corpos tudo o que foi selecionado.
É gratificante perceber como o método consegue atingir todos os tipos de indivíduos e como conseguimos chegar a uma conexão com novas ideias que se formam e tomam corpo. São imagens inéditas e manifestações que dão sentido a movimentos e coreografias nunca realizados.
Assim, a proposta do método na minha vida se relaciona com o novo, com o desenvolvimento da criatividade, com o lúdico, sem perder o foco principal que é a formação de um corpo capaz de sentir e perceber de outra forma o que já estava habituado.
Encontrar soluções que nunca havia pensado para questões que comumente se deparam enquanto pesquisamos e investigamos a dança. Outro olhar enquanto estudamos e improvisamos movimentos busca gestos. Movimentos originais que identificam as marcas registradas de cada um.